quinta-feira, 22 de maio de 2014

Histórias de Metrô: Adeus, mundo real!

Acabou. Já era! Não tem mais volta. A realidade está definitivamente sepultada, e quem deu a última batida na terra da cova com a pá foi o mundo virtual. Dentro do metrô não é diferente. Os dispositivos móveis parecem hipnotizar grande parte dos passageiros dentro dos vagões, deixando-os presos com algemas de plástico em uma cela de Led.

Fico deslocado. Essa é a palavra que define minha situação dentro do transporte metropolitano. Pergunto-me: “Cadê as pessoas?”. Elas estão e ao mesmo tempo não estão naqueles locais. Olho para o lado e vejo uma infinidade de cabeças abaixadas, todas olhando algumas polegadas que tentam reproduzir o mundo real em uma porção de aplicativos, redes sociais, dados, megabytes, gigabytes e vícios. Fico perplexo ao observar tal situação.

Tento entender aquilo que vejo. Mas o pensamento reflexivo deste que vos escreve é cortado em meio a um barulho, parecido com um assobio, que quase faz meu coração sair pela boca: uma mensagem chegou a um dos passageiros. Porém, o susto maior foi após alguns minutos, quando escutei o mesmo ruído ecoar do aparelho de outra pessoa. Até parece que a primeira havia emprestado seu celular ao desconhecido colega de vagão.

O metrô para na estação. Abre-se a porta. Entra um casal apaixonado, de mãos dadas, trocando olhares como quem se declara através da visão. Penso, iludido, que enfim alguém viveria no mundo real. Inocência a minha. Bastou o trem entrar em movimento para tirarem o smartphone de cada um do bolso e entrarem na dimensão paralela da web. Até o amor perdeu para a tecnologia.

Uns balançam a cabeça ouvindo música com seu fone. Outros dão risada quando leem algo. Há ainda os que fazem cara de preocupados com o que observam no aparelho. Tem aquele que dorme com a cabeça caída e a boca aberta. Mas este estaria mais na realidade que os outros? Não. Mesmo enquanto vaga por sonhos, está apreciando no fundo de sua mente um som com o fone de ouvido e o seu celular – formato de telha – exposto na mão. Olha o perigo de alguém tomá-lo enquanto cochila! Percebo que mais ninguém se importa nem com a própria segurança...

E da mesma forma, também não ligam para o espaço ao redor. Já não existe mais a realidade, o “tête-à-tête”. Estejam em pé, sentadas, espremidas na porta do vagão ou no meio de outros passageiros, as pessoas não largam mais o mundo virtual.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Capitalismo: Que atire a primeira pedra.

Vamos falar sobre Capitalismo, o sistema econômico predominante no mundo desde o final do século XIX ou inicio do  XX. Ou melhor, falaremos sobre as pessoas que se autointitulam “anticapitalistas”.

Tudo bem, não dá pra negar que, ao menos uma vez na vida, todos nos deparamos com uma situação em que chegamos a ter nojo de como o mundo está extremamente capitalista. Mas também não dá pra negar que dependemos disso, o que não é necessariamente ruim.

Ok, antes de me aprofundar no assunto quero deixar claro que não sou totalmente contra outro sistema econômico, bem como não sou totalmente a favor do nosso.


Porém, sempre surgem aqueles “revolucionários” revoltados com o sistema. Quando falo desses revolucionários, refiro-me à pessoas que vivem em países que aderiram ao sistema e “brigam” fervorosamente se opondo ao próprio, manifestando todo o seu ódio ao capitalismo, mas que em atitudes do cotidiano, vivem o contrário. Hipocrisia total! Que atire a primeira pedra aquele que abre mão de ter o carro do ano, caso tenha oportunidade de comprá-lo. Ou aquele que se abdica de comprar sua Coca-Cola que acompanha seu Mc Donalds. Aquele que se recusa a comprar um celular da moda, um iPhone, Samsung, Motorola ou seja lá qual for. Aquele que evita colocar em seu celular uma capinha com a estampa da bandeira dos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá ou qualquer outro país extremamente capitalista. Ou que deixa de comprar uma TV de Plasma, ou um rádio dos mais modernos. Se você não se enquadra em qualquer situação acima, convido-o a nos contar como é a vida de alguém totalmente independente do Capitalismo.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Mais um texto pra copa.

Quem me conhece, sabe que sou contra a realização da copa do mundo no Brasil. Sempre fui, desde a escolha do país como sede do evento. Mas uma coisa eu não posso negar. Vai ter copa sim.

Confesso que chego a repudiar essa campanha – não vai ter copa – criada pelos brasileiros que são contra a realização dos jogos no país do futebol.
A escolha do Brasil para sediar tal evento  foi feita em 2007, ainda no governo Lula, porém somente no ano passado estourou essa campanha contra a realização dos jogos.
E digo mais: fazer manifestações agora, a menos de 30 dias para o ínicio dos jogos não vai evitar a realização dos mesmos. E vou mais além: se a copa realmente não acontecer, o que é improvável, pra não dizer que é impossível, se a copa realmente for cancelada os hospitais que deixaram de ser construídos, ainda assim, não serão erguidos. O dinheiro que foi investido onde não devia ter sido já foi gasto.
Por favor, não me tomem por alguém cujo discurso diz que estádios são mais importantes que saúde pública. Estou querendo dizer que depredações, confusões, destruição de patrimônio e manifestações não irão adiar o inevitável. A copa vai acontecer, sim!
E também não sejamos hipócritas. Quando os jogos começarem boa parte dos manifestantes irão assisti-los.

E pra finalizar: também não sejamos antipatriotas. Vamos sim torcer para o Brasil. Não para entrar no jogo do governo, e de quem sempre disse que a copa vai acontecer e sermos coniventes com a realização do evento, mas sim para não esquecermos que ainda somos o país do futebol arte. E claro, torcemos para o Brasil para que os gringos, e nós também, comprarmos uma TV de 60 polegadas por apenas um real nas Casas Bahia. Todo mundo sai ganhando. 

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Histórias de Metrô: Medos e desconfianças

As pessoas andam muito desconfiadas, isso não é de hoje. Em quem podemos confiar? Como ficar tranquilo sem saber quem está ao lado, especialmente no transporte público? Uma vez vi uma mulher dar um pulo de susto quando o rapaz à sua esquerda tirou o pacote de balas que ia vender. Ela achou que fosse uma arma, ou algo do tipo, e ainda teve que ouvir o próprio vendedor tirar sarro da situação: “Eu só estou fazendo o meu trabalho, moça! Não precisa ficar assim não. Eu, hein!?”.

Certas coisas realmente me dão muito medo no metrô. Uma delas é quando eu vejo alguém falando sozinho. E não sei se é padrão entre os “autoconversadores”, mas todos os que já me deparei ficaram perto da porta de saída bem no meio do vagão.

Um dia, fiz um trajeto através de 11 estações. No caminho, tive a oportunidade de acompanhar alguns casos diferentes desse tipo.

O primeiro foi entre a segunda e a terceira estações. O homem entrou e colou na porta de saída (pra variar). Então do nada começou a dizer, com uma cara irritada: “Você vai ver. Estou chegando. Eu vou te colocar no sapatinho!”. Estava bem ao lado. Virei a cara disfarçadamente para entender o que se passava e constatar que aquilo não era comigo. Mesmo assim, minhas pernas começaram a tremer.

Quando me tranquilizei, ouvi mais uma: “Você está pedindo! Você está querendo!”. Entrei em pânico. O que mais queria era que ele saísse dali. Para a minha felicidade, isso ocorreu já na próxima estação. Ufa! Estava aliviado. Poderia seguir em paz. Não, não poderia...

Na sexta estação, entrou outra figura e ficou no mesmo lugar do anterior. Dessa vez só mexia a boca, mas com uma expressão facial bem mais irada que a do primeiro. E ainda tinha um agravante: este dava uns socos de leve na porta.

Não era possível aquilo. De novo? Mas menos mal que também durou só uma estação. Ele saiu agitado, cortando todos os que estavam em seu caminho na plataforma. Agora chega, né!? Não. Aconteceu pela terceira vez...

Já me sentia perseguido, e não era para menos. Na nona estação, entrou um senhor. Parecia ter seus 50 anos. Mas este não ficou na porta, e sim em frente a minha pessoa! E ele não era daqueles solitários. Tinha um amigo imaginário, com quem falava e ria.

Depois começou a apontar para um rapaz que estava sentado, tranquilo com seu fone de ouvido. E o pior, ele viu que estava sendo fitado. O homem continuou apontando, olhando para o seu amigo invisível e rindo de algo inexplicável!

Nisso, o rapaz levanta-se do banco e vai tirar satisfação. Engulo seco e observo, receoso que isso fosse acabar em briga. As pessoas em volta afastaram-no do senhor e aconselharam a não se importar, afinal, “não vale a pena brigar com um louco”, diziam.

E o outro ainda pediu desculpas e falou que não era com o rapaz, mas depois tirava um sarro com o seu “camarada mental”.

Dessa vez, a coisa não se encerrou na próxima estação. Ele continuou. O clima de tensão se espalhou por todo o vagão.

A próxima parada já era onde eu desceria. E assim que ela chegou, fui embora e deixei aquele cenário aliviado depois de tudo que vivi e, ao mesmo tempo, curioso para saber que fim teria essa história.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Histórias de Metrô: Espasmos de riso

Sou um jornalista observador. Procuro visualizar tudo o que acontece à minha volta. Mas, infelizmente, tem horas que acabo vendo mais do que devia. E nessa de enxergar demais, acabei me deparando com uma situação engraçada.

Metrô lotado. Eu estava colado na moça ao lado, que digitava mensagens em seu super tecnológico smartphone. Enquanto admirava aquele aparelho, inevitavelmente vi o que ela digitava. Lá havia escrito: “Tem uma mulher aqui que tem cara de sapo”.

A frase por si só já me fez segurar o riso e aguentar firme. O problema maior surge quando eu olho ao meu redor e consigo identificar exatamente a “mulher com cara de sapo”.

A força que fiz para não gargalhar já era ineficaz! Mesmo sem olhar de novo para a face de qualquer pessoa ali, as cenas que tinha acabado de presenciar não saíam da minha mente.

Foi difícil. Olhava para o chão como quem encara outra pessoa brincando de ficar sério por mais tempo. E perdi.

Na primeira risada, fingi ser uma tosse. Na segunda, balancei a cabeça como se lembrasse de uma piada recém-contada. Na terceira, já achava graça pelo motivo inicial e pelos disfarces das outras duas vezes.

Creio que as pessoas à minha volta pensaram que eu era louco. E não posso afirmar que estavam completamente enganadas...

O tempo entre uma estação e outra demorava uma eternidade. Ou seja, foram cerca de nove eternidades para eu sair de lá.

A moça, que começou toda essa situação ao escrever aquilo, saiu logo. Pensei em sair também para dar risada à vontade e depois pegar o próximo metrô, mas quem disse que conseguia me mexer de tanta vergonha?

Os espasmos descontrolados de risos ficavam cada vez mais frequentes. Já não sabia mais o que fazer. Decidi, então, aceitar a minha derrota e ficar com o sorrisão aberto sem medo de ser feliz (literalmente)!

E, para a minha infelicidade, a mulher com cara de sapo desceu na mesma estação que eu...

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Nossa querida Cidade-Que-Não-Dorme


“Eu amo São Paulo”. Hoje começo minha crônica com essa frase que ouvi na rua um dia desses, quando voltava do trabalho. Uma frase um tanto quanto clichê, mas aplicada ao contexto no qual a ouvi até que é bem diferenciada.  Um rapaz comentava com uma mulher, enquanto ambos caminhavam e olhavam a beleza noturna da oriental Liberdade, mais especificamente sob o viaduto da Avenida Liberdade.

Tal beleza, com todas as luzes, prédios, carros e seus faróis, talvez não pudesse ser vista há 60 anos atrás. Para justificar o que digo, indico uma crônica escrita por José Hamilton Ribeiro chamada “A noite tem mil bandeiras“. Ok, confesso que estou utilizando um trecho da crônica dele - que fala como a cidade de São Paulo era na época em que foi escrita – como base pra escrever esse meu texto, falando da nossa iluminada São Paulo na atualidade.

Porém, a verdade seja dita: não conheço muito bem a cidade, então não posso falar amplamente a respeito dela. Mas vamos lá...

Quem anda durante o dia e durante a semana pelas ruas centrais de São Paulo só vê correria, estresse, aquela preocupação toda com trabalho, estudo ou coisas do gênero e nem sequer se preocupa em reparar no mundo a sua volta, nos prédios erguidos, monumentos, semáforos personalizados etc. Agora, quem caminha despreocupado por essas regiões, atento a esses detalhes, consegue notar muita coisa boa, fora do padrão que estamos acostumados. Dá até pra esquecer a “sujeira” da cidade.

E a diversidade cultural? Japoneses, coreanos, chineses, bolivianos, americanos, portugueses, árabes. Turistas do mundo inteiro dividem as ruas de Sampa praticamente o ano todo, fora de época, longe das férias e isso bem antes da Copa.

E os próprios brasileiros, é claro! Os mais jovens – alguns deles – com suas “disputas” na extravagância dos cabelos, multicoloridos, exoticamente penteados, dividem as ruas da cidade – no bairro da Liberdade, principalmente – nas diversas vezes que a cidade apresenta seus eventos de anime, quando jovens e adolescentes se fantasiam de seus personagens favoritos.


São Paulo é repleta de uma diversidade pra lá de magnífica: prédios em construções, prédios já construídos, todos muito bem iluminados, lojas de variedades, bares para diferentes gostos, restaurantes para distintas ocasiões, uma vida noturna agitada. Por que não a chamar de “A cidade que não dorme” também? Afinal, São Paulo tem vários locais muito bem apropriados para muita diversão. Baladas, bares e restaurantes estão presentes não só na região central, mas também em qualquer bairro da nossa Cidade-Que-Não-Dorme.




segunda-feira, 17 de março de 2014

Histórias de Metrô: Mais criatividade na hora de pedir dinheiro

Algo que sempre vemos dentro do metrô é quando uma pessoa entra no vagão e, entre uma estação e outra, começa a pedir dinheiro. Esse ato ora vem através de uma história (trágica) de vida, ora via comércio de chicletes (ou “chícletes”, dependendo do vendedor).

Entre as mais diversas vezes que pude presenciar algo do tipo, duas foram especialmente malsucedidas. A primeira foi quando a mulher - experiente nisso há muitos anos – entrou no metrô e começou a contar a tragédia que havia vivido. No meio da prosa, ao observar uma senhora que parecia conhecer, parou no mesmo instante e se dirigiu à saída. O melhor foi ouvir da avistada “acho que essa mulher me reconheceu”.

A segunda situação curiosa aconteceu quando um homem – que parecia não estar acostumado a essa prática – falava que vinha de outra cidade para prestar concurso para ser motorista de ônibus e não havia passado. Consequentemente, não tinha verba para voltar. Nisso, outro senhor o interrompeu e perguntou se ele possuía comprovante do concurso – óbvio que a resposta foi negativa. Na hora, pensei: “Agora pronto, eles vão brigar aqui”. Felizmente e para a minha surpresa, a réplica foi pacífica, porém indignada: “É porque eu também sou motorista e já fui vítima de uma enganação dessas! Falaram que iria ter um concurso, mas quando chegava no local a empresa negava”. O alívio foi imediato. O homem que pedia dinheiro não soube mais o que falar e, sem receber nada, saiu do vagão na estação seguinte.

Sejam bem ou malsucedidas, vemos que falta criatividade em todas as tentativas. Característica esta que só observei em uma ocasião. No caso, embarcaram dois rapazes, com um violão cada. Até aí, nada demais. Porém só foi o metrô andar, que eles se apresentaram como dupla sertaneja e começaram a cantar a primeira música que vinha à cabeça entre as portas do vagão.

E assim foram por cerca de duas ou três estações. Sempre tocando e andando ao mesmo tempo, no meio dos bancos, de um lado para o outro. Naquele ritmo, a dupla ganhou os passageiros. O estresse habitual de quem pega transporte público diariamente deu lugar a uma alegria – mesmo de quem não gostava do estilo musical – que fez aquele trajeto ganhar mais vida. Até os mais carrancudos comentavam: “Fazer assim é melhor do que ficar com lamentações. Pelo menos anima o povo”.

A apresentação até intervalo teve. Isso quando o metrô parava. Afinal, os pedintes não podiam ser vistos. E essa foi mais uma forma de divertir as pessoas que ali estavam.

Mas o pedido formal mesmo veio após umas cinco músicas. Apelaram para que comprassem seu CD ou dessem algum trocado. Nunca vi tanta gente dar dinheiro a desconhecidos com tamanha alegria como naquele dia...