sexta-feira, 2 de maio de 2014

Histórias de Metrô: Medos e desconfianças

As pessoas andam muito desconfiadas, isso não é de hoje. Em quem podemos confiar? Como ficar tranquilo sem saber quem está ao lado, especialmente no transporte público? Uma vez vi uma mulher dar um pulo de susto quando o rapaz à sua esquerda tirou o pacote de balas que ia vender. Ela achou que fosse uma arma, ou algo do tipo, e ainda teve que ouvir o próprio vendedor tirar sarro da situação: “Eu só estou fazendo o meu trabalho, moça! Não precisa ficar assim não. Eu, hein!?”.

Certas coisas realmente me dão muito medo no metrô. Uma delas é quando eu vejo alguém falando sozinho. E não sei se é padrão entre os “autoconversadores”, mas todos os que já me deparei ficaram perto da porta de saída bem no meio do vagão.

Um dia, fiz um trajeto através de 11 estações. No caminho, tive a oportunidade de acompanhar alguns casos diferentes desse tipo.

O primeiro foi entre a segunda e a terceira estações. O homem entrou e colou na porta de saída (pra variar). Então do nada começou a dizer, com uma cara irritada: “Você vai ver. Estou chegando. Eu vou te colocar no sapatinho!”. Estava bem ao lado. Virei a cara disfarçadamente para entender o que se passava e constatar que aquilo não era comigo. Mesmo assim, minhas pernas começaram a tremer.

Quando me tranquilizei, ouvi mais uma: “Você está pedindo! Você está querendo!”. Entrei em pânico. O que mais queria era que ele saísse dali. Para a minha felicidade, isso ocorreu já na próxima estação. Ufa! Estava aliviado. Poderia seguir em paz. Não, não poderia...

Na sexta estação, entrou outra figura e ficou no mesmo lugar do anterior. Dessa vez só mexia a boca, mas com uma expressão facial bem mais irada que a do primeiro. E ainda tinha um agravante: este dava uns socos de leve na porta.

Não era possível aquilo. De novo? Mas menos mal que também durou só uma estação. Ele saiu agitado, cortando todos os que estavam em seu caminho na plataforma. Agora chega, né!? Não. Aconteceu pela terceira vez...

Já me sentia perseguido, e não era para menos. Na nona estação, entrou um senhor. Parecia ter seus 50 anos. Mas este não ficou na porta, e sim em frente a minha pessoa! E ele não era daqueles solitários. Tinha um amigo imaginário, com quem falava e ria.

Depois começou a apontar para um rapaz que estava sentado, tranquilo com seu fone de ouvido. E o pior, ele viu que estava sendo fitado. O homem continuou apontando, olhando para o seu amigo invisível e rindo de algo inexplicável!

Nisso, o rapaz levanta-se do banco e vai tirar satisfação. Engulo seco e observo, receoso que isso fosse acabar em briga. As pessoas em volta afastaram-no do senhor e aconselharam a não se importar, afinal, “não vale a pena brigar com um louco”, diziam.

E o outro ainda pediu desculpas e falou que não era com o rapaz, mas depois tirava um sarro com o seu “camarada mental”.

Dessa vez, a coisa não se encerrou na próxima estação. Ele continuou. O clima de tensão se espalhou por todo o vagão.

A próxima parada já era onde eu desceria. E assim que ela chegou, fui embora e deixei aquele cenário aliviado depois de tudo que vivi e, ao mesmo tempo, curioso para saber que fim teria essa história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário